segunda-feira, 24 de setembro de 2012
A Igreja Católica e a Política no Brasil
A Igreja Católica no Brasil carrega na sua história um valor evangélico cada vez mais interpelador para sua missão: estar próxima do seu povo. Aliás, o faz nas pegadas do Cristo que percorreu a Palestina irradiando a boa nova do Reino da Verdade, da Justiça e do Amor.
Nas últimas décadas, a Igreja Católica no Brasil, por fidelidade ao seu processo evangelizador, foi levada muitas vezes a ser porta-voz de uma democracia participativa.
As recentes Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja do Brasil (2003-2006) propõem evangelizar... “participando da construção de uma sociedade justa e solidária”. Para tanto, constatam os desafios para que a semente caia em terra boa, apresentam a qualidade da semente através da proposta cristã e propõem pistas de ação para que a semente produza em abundância. Entre os desafios, as Diretrizes chamam a atenção para o escândalo da exclusão e da violência na nossa sociedade, que é hoje uma das mais desiguais do mundo. Na proposta cristã, lembram o ideal da comunidade cristã que é a realização da solidariedade - “Não havia necessitados entre eles”. Entre as pistas de ação, explicitam que “as comunidades eclesiais tenham consciência de que devem praticar, elas mesmas, a solidariedade que pregam para a sociedade...(n.203).
Quais os fundamentos para a Igreja exercer esta missão na política? Os Bispos da América Latina, na Conferência de Puebla, 1979, afirmam: ”A dimensão política, constitutiva do homem, representa um aspecto relevante da convivência humana. Possui um aspecto englobante, porque tem como fim o bem comum da sociedade... A Igreja sente como seu dever e direito estar presente neste campo da realidade porque o cristianismo deve evangelizar a totalidade da existência humana, inclusive a dimensão política” (cf. Puebla, n.513-515).
No entanto, os Bispos fazem algumas distinções significativas para o exercício de sua missão profética no campo da política: “Valorizam a Política em seu sentido amplo, que atinge os valores fundamentais de toda a comunidade humana; definem, também os meios e a ética das relações sociais. Neste sentido, a Igreja contribui para promover os valores que devem inspirar a política, interpretando as aspirações dos povos, especialmente os anseios daqueles que a sociedade tende a marginalizar. E o faz mediante seu testemunho, sua doutrina e sua multiforme ação pastoral” (cf. Puebla, n. 520-522).
Mas os Bispos também vêem a política como realização concreta dessa tarefa, que é feita normalmente através de grupos de cidadãos que se propõem conseguir e exercer o poder político para resolver as questões econômicas, políticas e sociais. Aqui implica no que chamamos “política de partido”, que é o campo próprio dos cristãos leigos e leigas.” (Puebla, n.523).
Neste contexto devemos discernir a posição da Igreja católica no Governo atual. De um lado, está em diálogo constante com o Presidente da República, Sr. Luís Inácio Lula da Silva. Por outro lado, continua sua missão de educação das consciências, denunciando profeticamente as injustiças e anunciando uma sociedade nova, insistindo na ética. E o faz mediante suas Campanhas da Fraternidade, mediante eventos concretos como a promoção da lei 9 840 contra a corrupção, mediante os pronunciamentos da sua Presidência. Faz parte de sua missão, também, preparar cristãos para a atuação na política, acompanhando-os pastoralmente.
Dom Odilo P. Scherer
Secretário - Geral da CNBB.
Publicado pela CNBB em 22/10/2003.
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